quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Metalugar

onde eu ponho um ponto não ponho uma vírgula;
onde eu exclamo não interrogo!?
onde eu fico de través não atravesso –
onde eu pontuo não finalizo.
onde eu falho não sinalizo.
onde eu tropeço ponho vírgulas,
onde eu hesito, também,
mas quando tenho êxito, não.
quando eu vejo já está escrito,
já estou pronto.
quando eu falho eu risco.
só ponho imaginação e publico.
se demoro eu viro a página.
eu viro livro, inanimado.
se sobrevenho eu sublinho.
se cito Dante, se cito Castro Alves.
se escrevo eu assino.
se mato eu escondo, mas se vivo
a moita se mexe, se move, vira sarça e arde.
se palavras postas uma após outras são assim.
se abro um (parêntese é porque pensei em outra coisa).
se fecho é porque esqueci.
se escrevo números é porque são sempre sete, doze, três.
se chego a chamar de versos o que são feridas.
a superfície onde escrevo não é maleável.
o terreno é de pedras – duro, sobrevivo.
não há poesia neste canto.
existo, logo penso acabar.
onde penso acabar.
onde colocar um ponto.
o mais ou uma cruz:
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Minha vida (pensada) de escritor

Bom: pra começar eu não tenho vida de escritor. Vivo numa casa abandonada por mim, e antes por mulher e filhos. Quanto a minha vida de poeta, nunca passou de anônima. Escrevo muito e nem eu mesmo me leio. E ultimamente dei pra achar bom demais tudo que escrevo - um risco. Já me considerei um bom leitor, hoje me considero preguiçoso. Culpa do século que, antes do livro impresso, me dá as opções de passar os olhos pela Internet, ver um filme, ouvir uma música no mp3, ver uma partida de futebol na tevê, uma mesa-redonda, ou uma série cheia de recursos especiais, ou um bom documentário, uma boa entrevista, ou atualizar uma rede social qualquer, ou ainda a melhor de todas - ouvir rádio. Então abandono o pobre Quixote no meio de uma aventura, largo no fundo do Inferno um inconsolável Dante, aceno para Shakespeare com o lenço de Desdêmona, irrito-me com um Machado casmurro no metrô e deixo-o falando sozinho. Não é para tanto? E se hollywoodianamente Riobaldo se casasse com Diadorim no final do Grande Sertão? Bom, como Riobaldo, também tenho meus pensamentos, caros a mim, que aos outros não dizem bulhufas. Minha vida (pensada) de escritor. Penso no Machado poeta e me comparo a ele. Gostaria que as minhas Americanas também fossem um salto para algo maior. Escrever prosa. O Rosa também optou por uma prosa poética ou uma poesia em prosa. Mas quem sou eu? Um poeta anônimo, um pai sem causa, um filho perdido e amante quanto-mais¹. E ainda por cima um poeta obcecado por outros poetas, pelo Último Poema, pelo Lutador², pelo Romanceiro, pelo Barco Bêbedo. Sou um autor  anônimo, e não dos mais famosos. Obcecado por idéias, por versos, pela vida romanesca dos poetas e pela idílica vida dos escritores. Já me imaginei um Fernando Sabino morando numa Ipanema de um Rio de Janeiro. Já me imaginei andando pelas ruas de outro Rio de Janeiro do século machadiano. Eu não me pertenço. Não pertenço a este tempo. Talvez daqui algum tempo, digamos cem anos à frente, eu comece a pertencer à cidade, às ruas, aos bares, aos transeuntes, a um esquecimento de mim mesmo que hoje apenas ensaio. E nos olhos do meu filho talvez eu viva. Nas páginas do meu livro. Atrás das letras do meu nome. Finalmente autor. Autor destes pensamentos que tive, que alguém tem, autor destas linhas que escrevo e leio, ao mesmo tempo que penso. Autor de mim mesmo.

¹Quase dez anos depois de escrever isto, não sei o que seria um 'amante quanto-mais'.
²Idem para a referência a esse 'Lutador'. Seria o das palavras, do Drummond?

domingo, 14 de novembro de 2010

A poesia me visita

Você já passou por isso? Você tem um compromisso qualquer, um trabalho, uma prova, cinema, futebol, banco, qualquer coisa, e na hora de sair algo te chama para outro lugar - no meu caso, a poesia. E ela é assim, não tem hora pra chegar nem pra ir embora, como uma visita de quem gostamos e não conseguimos lhe falar que temos que sair, temos prova hoje, ou o banco vai fechar, preciso ir, você se importa? E a poesia se importa. Ela diz: Não sei quando posso voltar; Não vai, não; Vamos ficar; Ou vamos sair; A vida é curta; Aproveitemo-la; Qual compromisso! Compromisso temos nós dois, seu maganão!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De um poema perdido


Pensar que algum deus o ouviu? Que algum anjo lia sobre os meus ombros? É uma perda. Irrecuperável. Não saberei jamais se estava bom ou não. Quem sabe se não foi o próprio diabo quem mo tomou das mãos? No entanto, gostaria de rever esse poema. Não posso tentar reescrevê-lo. Sairia outro. Não consigo relembrá-lo. Só queria vê-lo em sonho uma única vez novamente. E a resposta: Se estava destinado a escrevê-lo, e perdê-lo, no mesmo instante.

sábado, 24 de julho de 2010

Apresentando Amílcar de Castro, poeta


Dois poemas de Amílcar de Castro, artista plástico e poeta, retirados do Suplemento Literário de Minas Gerais/dezembro de 2002.

A Consciência do fazer

Eu sou porque ela é.
Ela é porque eu sou.
Somos de graça.
A superfície está em branco.
Eu também.
Se com um gesto a toco,
eu sou tocado.

A grama desenha o verde

A grama desenha o verde
A árvore desenha o céu
O vento desenha a nuvem
A nuvem desenha o azul
A água desenha o rio
E o homem desenha o tempo
na exatidão do sonho.

Amílcar de Castro

terça-feira, 1 de junho de 2010

Twitter: O Novo Pensamento



Ando preocupado... (Você já reparou que ninguém se preocupa demais deitado ou sentado, e parado?) ...com o prestígio do Twitter. Andam dizendo por aí (Fofoca também não é algo fácil de espalhar, dá trabalho, é quase uma profissão) que só existe futilidade no Twitter, a começar pelos políticos... Como assim?! Político só faz m#@%* mesmo, não importa que ferramenta use. Portanto, vim aqui para defender este novíssimo divulgador do Alto Pensamento Brasileiro, APB (Tudo de importante na nossa vida precisa de uma sigla, já reparou? Sua altura é medida em cm, seu peso em kg, sua inteligência pelo QI, se você é alguém nesta vida é graças ao seu RG, ao seu CPF e ao seu número do PIS. Ah, claro, na falta de todos estes documentos, serve o número do seu cartão de crédito, como não!).

Você sabia que até Deus tem Twitter? Pois é! @OCriador é um dos maiores fenômenos do Twitter - e também da Internet, já que o seu http://sacdivino.org/, que nada mais é que o Serviço de Atendimento ao Consumidor do próprio Criador, também tem milhares de seguidores, digo, admiradores, digo, todos os interessados em se salvar, vai! Ali você pode tirar sua dúvidas com o Divino, fazer reclamações, dar sugestões. É um canal direto com o céu, via teclado. Mas tem também aquele que espalha "mau humor" pra todo lado, como o @bomdiaporque, ou o @fumantepassivo, além dos gênios incontestáveis como @millorfernandes e até poetas, @profissaopoeta, que usam esta bela ferramenta para exercitar sua loucura mansa, como Diego Domingos. Bom, chega de falar dos caras e vamos ao seu "pensamento vivo":

De @OCriador:


A crise religiosa está tão grande que em breve será mais difícil encontrar um pró-cristo do que um anti-cristo.
Micaretas, povoando o inferno desde 1990.
Após o milagre, Jesus se aborreceu bastante quando reclamaram que o vinho estava aguado.
Filhos, quando morrerem, passem aqui no setor de criação para fazermos um recall dos sisos, das amígdalas e do apêndice.
Não adianta perguntar “o que Jesus faria?” diante de problemas. Já que ele podia fazer milagres para resolvê-los. E você não.
A frase “encontrei Jesus” foi dita pela primeira vez por uma criança em Nazaré, durante uma brincadeira de pique-esconde.
Há basicamente dois tipos de seres humanos: os que Me amam e os que vão queimar no fogo do inferno por toda a eternidade.
Vende-se bola azul, 6 bi de anos de uso, milhões de espécies incluídas. Grátis um apocalipse. Garantia estendida até 2012.
Minha justiça divina não permitiria que apenas as mulheres sofressem os martírios da menstruação, por isso criei a TPM.

De @bomdiaporque:

"Eu tenho o direito de ser feliz." De onde você tirou isso? No máximo, você tem o direito a 30 dias de férias.
Não fico irritado facilmente. O problema é que o mundo insiste, insiste, insiste e uma hora consegue.
Afinal, por que uma moda só fica ridícula depois que passa?
"Ana Maria Braga publica livro". E você achando que o maior inimigo dos livros eram os leitores eletrônicos.
Não tem como piorar? Que nada. Você é que anda sem imaginação.
O maior problema de ser casado é que o despertador do outro também acorda você.
Se a matemática é uma ciência exata, como a resposta para uma equação pode ser “de menos infinito a mais infinito”?
Se você tb cumprimenta os outros pergutando se está tudo bem, então deveria estar pronto para ouvir a verdade.
“O tempo cura qualquer coisa”. Qualquer coisa, menos a velhice.
“Podia ser pior”. Na verdade, vai ser.
Toda diplomacia, no fundo, é uma ameaça: ou vc aceita o q eu tô sugerindo educadamente ou eu vou te encher de porrada depois.
Tô ansioso pelo último episódio de Lost. Não que eu queira ver - eu quero mesmo é que acabe essa porcaria.
"É tão difícil acordar neste friozinho." Não, não. Difícil é aturar o cretino falando isso todo santo dia.
E essa Copa que não acaba?

De @fumantepassivo:

Respeite os fumantes. Quem é capaz de cometer suicídio lentamente é capaz de cometer qualquer outra loucura.
A segunda-feira não é para os fracos. Saudações a todos os sobreviventes.
O mundo realmente dá voltas. Roda, roda e sempre traz mais uma maldita segunda-feira.
Segunda-feira até quem não bebe acorda de ressaca.
O único problema do final de semana começar é saber que inevitavelmente ele vai terminar numa segunda-feira.
As 3 primeiras letras da sexta-feira já são suficientemente sugestivas pra quem reclama não ter o que fazer nesse dia.
Segunda até sexta: 5 dias. Sexta até segunda: 2 dias. Pra inverter a situação q o mundo se encontra, só invertendo isso.
Prometa uma coisa pra você mesmo: nunca prometa nada pra alguém.
Na Indonésia tem um menino de 2 anos que fuma 40 cigarros por dia. Imagina se fosse na Jamaica.
Enquete: quanto tempo mais você acha que Geisy Arruda vai resistir até necessitar protagonizar um filme pornô?
Liberdade é a maior ambição de quem vive na prisão. Não à toa quem trabalha sempre comemora muito o fim do expediente.
“NX Zero”, “Fiuk”, Luan Santana. Ano vai, ano vem e o maior problema dos jovens continua sendo o envolvimento com drogas.
O Twitter terá corretor ortográfico. Em outras palavras: Lula, Carla Perez e Sasha vão poder se cadastrar.
Um grande passo pra humanidade acabar com a injustiça nesse mundo seria acabar com a segunda-feira.
O fim do domingo não preocupa. O que aterroriza é a proximidade de mais uma segunda-feira.
Certos crimes chegam a ser ridículos perto do que uma semana de trabalho é capaz de fazer com a gente.
É claro que o Novo Uno ficou melhor. Pior, não podia ficar.

De @profissaopoeta:

Ninguém é tão bom que não mereça um biógrafo.
Verdade absoluta? O que há de verdade no absolutismo?
Os únicos que passam da infância direto para a idade adulta são os adolescentes.
-E agora, José? -Tchuim tchuim tchum claim.
Sexo, pra mim, não é o mais importante. O mais importante é consegui-lo.
No Brasil o futebol só pára pra Copa do Mundo.
Faça um favor para a Humanidade: se atire na cratera de um vulcão em erupção. Quer dizer: faça este favor a si mesmo. Ninguém tá nem aí. (Ao estilo de @bomdiaporque)
Se eu fosse você, não seria eu.
Em pleno século XXI, existir realezas com reis, rainhas, príncipes e princesas é algo irreal, quase surreal.
A beleza está nos olhos de quem me vê.
No fundo, no fundo, as pessoas são muito superficiais.
Eu não acredito em artistas que conseguem fazer a sua arte, e explicá-la.
Foi o que eu disse. Ou pensei. Não sei.
"Pensando bem" eu gosto de escrever. "Se bem que" também. "Na ponta do cérebro" em vez de "Na ponta da língua". "Em algum lugar" acho bonito
Não vai dar tempo de morrer com dignidade. O melhor a fazer é morrer rápido evitando assim aquele constrangimento entre quem vai e quem fica
Em certas ocasiões eu prefiro um bom livro ou um bom filme a sexo. Depois de uma noite de sexo selvagem, por exemplo.
Em breve postarei o meu suicídio. Não o meu suicídio autoral, nem físico nem moral. Um outro suicídio em que não faria mal nem a mim mesmo.
Por que ficar dizendo coisas sem sentido se posso tentar descobrir o porquê de ficar dizendo coisas sem sentido?

Taí uma amostra do pensamento nacional via Twitter. Depois disto não me venham dizer que o Twitter só tem besteira. É um bestiário, e você precisa saber a diferença.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE AMOR COMIGO

As minhas primeiras namoradas foram três ao mesmo tempo, quando eu tinha seis anos. E elas eram mais ou menos da minha idade, com diferença talvez de uns dois anos, para a mais velha. E o que nos ligava era ao mesmo tempo o que devia nos separar, a tensão de eu ser um para três e não eleger uma predileta. E este ciúme entre elas de mim criava também uma expectativa para ver, no final, com qual das três eu ficaria. Decisão esta que eu não queria tomar, e que não tomei até hoje. Eu gostava das três ao seu tempo. Minto. Gostava mais da Sueli, por que, eu não sei. Ela era a mais bonita? Era muito branca e muito magra. Mas tinha algo mais. Tinha uma alma feminina, no corpo de uma criança, que precisava já, naquele tempo, ser amada como uma mulher por um homem. A segunda na minha preferência era a Léia. Esta já me apontava para a vida prática - casamento, filhos, trabalho. Seria a mulher com quem eu conversaria ao jantar todas as noites sobre como a vida flui naturalmente. E riríamos de nós, e riríamos dos outros e seríamos felizes naturalmente. E a terceira nesta ordem seria a Preta. Com a Preta acho que não teria pouso neste mundo, não teria endereço fixo, seríamos andarilhos, aventureiros, carregaríamos nosso único filho como as mães-cangurus carregam os seus. Seríamos hippies, talvez, usaríamos cabelos longos e tatuagens e o som de nossas vidas seria o rock. Não, a Preta era bonita e talvez eu a tivesse matado por ciúmes pouco tempo depois de me decidir por ficar com ela. A paisagem destes amores era rural, e brincávamos de casinha, marido-e-mulher, e a parede de nossa casa eram bambus, e lembro vagamente que, na hora da distribuição dos papéis, sempre que uma delas se autonomeava minha mulher, as outras se recusavam a fazer os papéis de filha ou qualquer outro e saíam da brincadeira e era quando papai-e-mamãe ficavam à vontade pra namorar nos mais inocentes beijos e abraços que a lembrança de um homem maduro pode trazer do seu passado azul-bebê.

E o que teria acontecido aos meus três primeiros amores ao mesmo tempo? Teriam se casado, tiveram filhos e já caminham para ser avós? Nada disto. Elas estão bem aqui, na minha frente, na sua frente, e não envelheceram um único ano, têm ambas as três ainda seis, sete e oito anos e me amam do fundo do coração sem se decidir em deixar o caminho livre pras outras nem eu a me decidir por ficar, de vez, com uma das três. Por amá-las demais cada uma de um jeito e sentindo-me amado triplamente.


quarta-feira, 7 de abril de 2010

UMA COISA EXTRAORDINÁRIA E TERRÍVEL



O ato de escrever tem em si um pouco da idéia ou sentimento de como a vida começou, o início, a origem. Tanto a versão bíblica quanto a da ciência determinam um ponto de partida – no início era a escuridão ou era o caos. Escrever então não começa na primeira letra aí em cima, no início do parágrafo, arrastando a primeira palavra e com ela as outras. Também no ato de escrever há um momento antes da luz ou de uma explosão. E é este estado anterior ao gesto que faz toda a diferença.
Se eu estava pensando, após ficar dois dias reclusos em casa, e ao sair, como é bom reconhecer a minha cidade, meus conhecidos, como é bom reconhecer o casario e ser reconhecido por ele, - se eu pensava assim antes de sentar para escrever e se eu pensei agora que sentar para escrever é um lugar-comum, para logo responder a mim mesmo que ninguém escreve em pé, mas por que não? Talvez sim. Talvez eu escreva para assentar as idéias, mas aí seria um jogo de idéias ou de palavras. E seria verdade também que neste momento eu já estaria escrevendo sem ao menos me dar conta disso – como quando a gente nasce, alguém se dá conta? Poxa, uma imagem mais bonita ainda: e se a gente se desse conta no exato momento em que fôssemos fecundados? Quando ainda não tivéssemos dois braços ou duas pernas mas tão-somente duas células? Este seria realmente o nosso marco inicial? E se, como idéias, teoria ou sonho, já existíssemos na cabeça e no coração de nossa mãe? Você está entendendo aonde eu quero chegar? Onde começamos. No ato de escrever. Que também, como nós, tem um começo indeterminado mas que precisa ser continuado.
Machado de Assis um dia escreveu que o pior que pode nos acontecer é nascer. Millôr Fernandes também já escreveu este dístico filosófico: Quem começa, já fez. Fernando Sabino também já disse que escrever é fácil: é só olhar fixamente para a página em branco até suar sangue. Então, meu amigo, se for escrever, não pegue o assunto do momento, não escolha várias pautas, não fale sobre o que você domina nem sobre o que domina você (sobretudo não faça jogo de palavras nem ponha as palavras em jogo, ou em jugo, nem tampouco salpique seu texto com parêntesis explicativos num dos quais você pode correr o risco de, se estendendo, ficar pensando que escreve a palavra tampouco lendo-a como tãopouco) e jamais, ao fechar um parêntese, deixe aquela idéia anterior a ele órfã.
Órfã é só uma palavra mas repare que nela o erre, o efe e o a estão de mãos dadas e é o ó, menino de topete, o órfão que quer entrar para esta família, em que a mãe r seria Rosa, o pai f, Fernando, e a menina ã Aninha. Repare então na palavra órfão. O menino, Otavinho, já foi aceito na família que o adotou, e agora é o seu irmãozinho, também órfão, que quer entrar pra família. Será que este outro menino também fará parte desta boa família?
E é aqui que eu deixo você: o que é, exatamente, quem escreve? Se ele é o autor, o criador, é ele quem dá vida a personagens, a idéias que parecem ter nascido da sua cabeça, isto sim, pois você concorda com tudo, ou antes, ele fez você pensar junto com ele, ou pior, tirou os pensamentos, a fórceps, do seu espírito. Mas e se ele não for nada disso? E se ele titubear como você, e se ele consultar dicionários e o Google, se ele não usar uma palavra correta só porque a acha feia? E se ele sentir fome enquanto escreve, ou sede, medo ou solidão? E se ele de repente se pergunta para quem está escrevendo? E se ele souber exatamente pra quem, pra você? Que coisa extraordinária, ou terrível.

sábado, 27 de março de 2010

Por que "Profissão: Poeta"?


Você, alguma vez na vida, ouviu falar de uma Escola Técnica Para Poetas ou de um curso universitário como Engenharia de Versos? Acho que só em sonho, né. Pois bem. Mas que os tais existem, existem, e cá estou eu para prová-lo. Bom, prová-lo não. Como poetas não se formam, nascem prontos, devo dizer que não nasci poeta mas me descobri como tal. E ser poeta não é só escrever poemas, é mais que isto. Ser poeta é ter uma visão diferente das coisas, é ter a atitude de parar para ver. Ficar admirando uma folha caindo da árvore, uma formiga trabalhando, uma garota de jeans, uma palavra, uma idéia, um sonho, uma sombra, nada e tudo. Ser poeta é andar sozinho e observar de fora, mas é também seguir a turba e tirar as impressões. E, convenhamos, isto não chega a ser uma profissão. Mas trabalhar com palavras, sim, lidar com os sentidos do leitor na busca do sentido no poema. Escrever, reescrever, cortar, compor, alinhavar - isto é um trabalho como outro qualquer, que exige parte intelectual e manual também. Todavia, este é um reconhecimento que não recai sobre todos os poetas. Devo repetir aqui aquela velha máxima de que poesia não dá dinheiro, de que ninguém vive de poesia? Na verdade, ninguém vive sem poesia, isto sim. Ninguém vive sem o sonho, sem o descanso da realidade, e isto é a poesia que proporciona, esteja ela em livro, filme, música, teatro, no amor ou em outro meio. Portanto a poesia é necessária, além de ser um direito do ser humano. Então sonhemos com o dia em que possamos responder à pergunta Qual a sua profissão?, envoltos num sorriso de vitória, uma direta e simples resposta : Poeta.